Hoje tive uma conversa inesperada.
Alguém, que não conheço bem e que não me conhece bem, fez de mim confidente.
Ela confessou-me que se sentia feliz como nunca.
Não sei nada sobre ela e, no entanto, comoveu-se diante de mim e confessou o desejo de fugir daqui para um outro lugar.
Não sei nada sobre ela e, no entanto, falou-me sobre o amor que sente por ele. A mim, que nem sequer sei quem ele é.
Falou-me sobre o desejo de ter um filho. E do futuro, e de como não quer adiar o futuro, que sabe que terá.
Terminou com um abraço repentino, mesmo antes que eu conseguisse processar tudo isto que me sucede.
Sem perceber bem, porque é que me surgem estes episódios.
De onde vêem estas pessoas que se atravessam na minha vida e me tocam de algum modo.
Não lhes entendo o sentido imediato, mas fico com a sensação de que têm um propósito maior.
Volto sempre à recorrente ideia dos sinais.
(Signos dizia ela)
Eu lembro-me de pessoas com quem ri e chorei e questiono-me, se no recanto escuro do seu sono, se lembram disso também.
Eu rebusco a memória e penso, fui assim tão má? fiz assim tão mal? Sou assim tão horrível e infame?
Sei que não fui, mas talvez nunca tenha sido nada, ou decerto lembrar-se-iam.
Meus senhores, eu não sigo a cartilha da amizade.
Desapareço amiúde. Fico muda por longos períodos.
Não tenho facebook, nem posto ou faço likes nas vossas vidas.
Ainda assim, não me passam as pessoas que larguei, ou me largaram.
Ouço-lhes o riso e o choro. Penso se pensam em mim, como eu penso nelas.
Penso se as fiz como eram, ou se eram mesmo assim e se fizeram outras, que desconheço.
Talvez eu apenas lhes tenha passado. Como quem consegue finalmente livrar-se de uma maleita insistente.
Talvez não leiam mais o que eu escrevo. Talvez não queiram mesmo saber.
Talvez tenham sido sempre, tão estranhas quanto esta estranha, que me confiou o choro e o riso.
Ainda assim
Estas palavras são
A/C para vocês
porque vocês não me passam
e recidivo com frequência
Sobre viver, há muita tinta gasta acerca de como o fazer. Mas a verdade é que apenas vivendo se aprende o que há a aprender sobre viver.
Quando não se aprende sobre viver, resta sobreviver.
Interessante como a palavra sobreviver ganha asas quando colocamos um simples espaço antes de viver.
Deveria estar atenta e ter percebido que me faltava apenas ganhar espaço e mudar tudo.
É que às vezes tudo depende da nossa errada percepção do mundo. Achamos que perdemos pessoas, quando muitas vezes ganhamos espaços na nossa vida, que estavam afinal mal ocupados.
Sinto que me libertei de tudo o que era tóxico. Chorei tantas lágrimas a forçar situações cujo desfecho me mostrou que afinal é isso...só resta aceitar e aprender sobre viver.
Para todos os que me fizeram sobreviver no passado, tenho apenas que agradecer, porque sem vos ter perdido ou arrancado não aprenderia nunca a ganhar o vosso espaço vazio ... tão necessário para começar FINALMENTE a viver.
A vocês todos, com profundo agradecimento pela dor educativa, dedico esta canção:
Tenho frequentemente esta sensação de estar a viver num limbo.
É esse ponto da vida onde se veio de algum lugar e ainda não se chegou ao seguinte.
Um ponto meio suspenso. Um cume de uma montanha até onde se subiu e se sabe que agora é apenas provável a descida.
Esse ponto implica que aparentemente esteja a mudar. Aparentemente apenas. Não estou a mudar, apenas me transmuto. Na subida fui percebendo melhor quem sou e fui descobrindo melhor o que não quero. E quando afastamos o que não queremos limpamos uma espécie de trilho que sempre ali esteve, sem que déssemos por ele.
É por ele que sigo cada vez mais segura de que finalmente encontrei o meu caminho
E por falar em festas e em figuração de personagens principais, vinha a ouvir na antena 3 mais uma dessas opiniões inflamadas sobre os festivais de música.
Dizia o locutor indignado que os festivais estavam a perder a personalidade e que a música era secundária.
Como pretenso conhecedor do verdadeiro festival de música o locutor ofendia-se com pessoas que estacionavam junto a um palco durante 3 dias e que não escolhiam o que ouviam. Revoltava-se ainda com as meninas e os looks festival e os telemóveis e todos os acessórios que enfeitam a festa.
Dizia que a música já não era a personagem central do festival.
Oh bebé inocente querido apresentador. Apeteceu-me ligar-te e com uma voz carinhosa dizer-te: bem-vindo ao mundo!
Lá está ela a pensar que é possível perseguir o impossível
Perguntavam-lhe e tu?
E ela pensava como nunca pensou nisso
Nunca idealizou um vestido, muito menos uma festa
Nunca sonhou com fogo de artifício ou com bolo
Nem sequer com uma casa ou com crianças à volta da mesa
Apenas e sempre sonhou com essa coisa antiquada de querer encontrar o amor
o grande, o absoluto e cheio de certezas
que nunca seria apenas o figurante dum dia festivo
Perguntavam-lhe e tu?
Pois não lhe servem vestidos brancos
Nunca os quis
Sempre quis o mais difícil
Um amor que sirva
de segunda pele